AI LOVE YOU
Instalação interativa montada com Fabio Navarro e Gabi Biga.
O trabalho partiu de um poema visual meu de 2013, que, embora evocasse sonoridade, existindo na leitura, estava impresso e emoldurado.
Ele foi apresentado ao grupo acho que logo na segunda aula, quando fomos convidados a levar algum trabalho que gostaríamos de mudar de formato. Ainda não sabíamos com quais os recursos.
Quando o Fabio Fon apresentou a placa make make e suas possibilidades (Por exemplo: disparar uma faixa de áudio tocando em uma banana!) dentro de um ambiente cheio de poetas e artistas experimentais, uma porta se abriu.
Além deste recurso, semanalmente íamos conhecendo o funcionamento de programações, gifs, recursos vocais, gravações de áudio, edições...
O trabalho “ai love you” terminou sendo um experimento. Embora tivesse um pouco da carga de ser um “trabalho final” por utilizar muitas das técnicas aprendidas naquele espaço, existiu autonomamente e a tecnologia empregada em sua execução ia adicionando camadas, e já não se sabia ao certo se as técnicas iam sendo empregadas conforme aprendidas ou se ia se tornando necessário desenvolver a técnica que correspondesse a ideia primeira, tamanho casamento entre técnica e poética, ambas se fundiram. As discussões com o grupo que desenvolveu o trabalho também tinham essa característica. Embora o poema fosse de minha autoria, as conversas iam chegando a propostas e soluções com complementariedade e afinação.
Para a montagem foram gravadas 47 faixas entre a maioria dos participantes da cooperativa. Variando as entonações entre satisfação, prazer, dor, alívio, susto, etc, cada pessoa gravou aproximadamente 5 versões da palavra ai, 2 de love e 2 de you. Uma programação feita por Fabio Navarro fazia disparar aleatoriamente uma das faixas cada vez que a placa make make era ativada.
A instalação contava com uma mesa central com dois bancos, um de cada lado, uma barra de ferro e um disco de ferro, que formavam um ponto de exclamação ou a letra i, dependendo de qual dos bancos o visitante estivesse ocupando. Um circuito montado com as placas make make fazia com que, ao tocar um dos objetos de metal e a pessoa à frente simultaneamente uma das faixas disparasse. Os visitantes ficavam olhando-se, se tocavam a mão, o rosto e até se beijavam enquanto o som ia, aleatoriamente e no ritmo dos toques, disparando as faixas. A sala estava iluminada apenas por um abajur. Na mesa em frente a cada um dos bancos uma placa indicava que os visitantes deveriam tocar no metal e um no outro simultaneamente.
Sinto que a instalação “ai love you” inaugurou um desvio da palavra escrita. Enquanto eu vinha de um percurso acadêmico e artístico com grande foco na visualidade das palavras, o poema interativo aprofundou a predominância do que Jakobson descreveria como a função poética: “A mensagem que evidencia a mensagem”, significando para mim que essa mensagem poderia ir além do bidimensional. A ideia purista da palavra escrita, estática, foi dissolvida. Ali a palavra era som, símbolo e toque.
Eu já tinha realizado trabalhos em outros formatos, como vídeo e performance, mas ainda não tinha experimentado fazer poesia interativa ou sonora. Hoje em dia entendo que transito muito mais entre linguagens e vejo nessa montagem um grande marco.
Mesmo tendo sido o primeiro trabalho apresentado junto à Cooperativa, considero que seja o principal trabalho que desenvolvi ali.